Amor para retornar



            Eu queria que ele me entendesse. Eu o amava, não há dúvidas e muito menos problemas em afirmar isso. Mas não queria que ele sentisse o que estava sentindo, de forma nenhuma. Doía. Doía só de pensar naquele sorriso que me encantava o coração. De fato, ninguém deveria sentir aquilo no mundo, infelizmente não é assim que funciona. Porque o amor machuca. E machucou.
            Eu queria o mundo e ele sonhava muito pouco, não deu certo. Como deixar de sonhar e pôr os pés no chão? Eu, simplesmente, não poderia dar uma vida pelo amor que sentia, pelo menos achava que não. Ainda hoje, sinto falta, mas espero que ele esteja bem, com outro alguém. Espero que ele não sinta o vazio que ficou aqui, em mim.
            Não há arrependimentos, afinal, hoje, eu tenho um universo só meu, meus sonhos são o meu norte. Não há nada que me prenda. Nenhum amor que esteja me esperando no futuro. Apenas o destino me aguarda. Gosto da pessoa que me tornei, mesmo que carregando essa saudade junto comigo. Talvez a tal da saudade tenha me tornado melhor. Me fez companhia por um tempo.
            Ele trabalha e já tem com quem compartilhar novas histórias, seu mundo é tão diferente... nem parece mais aquele cara que me encorajava com os meus sonhos, quem sabe por isso não se colocava dentro deles. Isso era algo que me deixava confusa, hoje, parece fazer sentido. Há menos luz naquele olhar. Há desapego no cabelo, agora crescido e com ondas aparentes. Queria que estivesse feliz.
            O que me amedronta é saber que um dia vamos nos encarar, novamente. É essa dor que eu temo todas as noites. Só que cada suspiro meu me diz que eu sei como vai ser. E está próximo. Ele ainda é tão ele; em algum lugar naquela alma, está alguém que eu amei. Talvez ainda ame, já não sei mais.

            Parece que foi ontem e já faz um tempo. Ainda há resquícios. As lembranças são vívidas e aquele sorriso... Ah! Aquele sorriso me desmonta. Mas tem andado tão perdido, até receio que não esteja mais lá. É só ressentimento, ou vergonha de assumir, no fundo, eu sei onde este riso vai se reencontrar. Em mim. 

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