Uma crônica pra alguém que não cheguei a conhecer

Eu só estava voltando da faculdade, como um dia qualquer, peguei o metrô para casa. Era noite, eu estava cansada e com dor de cabeça. Ouvindo mpb, sim, aquela playlist de sempre que eu tanto amo. Eu só estava perdida nos meus pensamentos, olhando para o nada e prestes a mergulhar numa conversa comigo mesma, quando te reparei ali no canto do vagão.
E, instantaneamente, nosso olhar se cruzou. Não sei por quanto tempo. Pareceu um segundo, mas quando dei por mim nos encarávamos enquanto a Banda do Mar soava na minha mente. Mais que depressa desviei o olhar, só que você, não. Ao perceber isso, fiquei, instantaneamente, com vergonha, tão previsível!
Eu seguia tentando não cruzar o olhar com o seu, quanto mais eu me esforçava, mais me frustrava. Pois é, inventei toda a sua história na minha cabeça, enquanto esses olhos negros faziam eu me perder em seu brilho. O seu cabelo que fez esforço para estar bagunçado e a óbvia preocupação em estar estiloso te tornaram interessante, não nego.
"Pode ser o seu cabelo ou o jeito que você anda...", o Marcelo Camelo cantava e eu concordava quando as palavras soavam. Eu poderia morar no seu sorriso, concluí. Pena que tudo que eu sei sobre você foi o que eu acabara de inventar. Pena que foram apenas trocas de olhares, longos olhares, olhares profundos. Apenas olhares.  E em um dos esforços para desviar o olhar, percebi que teria que sair na próxima estação.
Levantei um pouco desnorteada, em direção à porta continuei pensando naquela situação constrangedora. A culpa foi sua, pode assumir. O que eu mais dizia para mim mesma era "por que ele não para de me olhar?!". É, foi um bom tempo de interesse mútuo, aparentemente. Mas, como tudo, está na hora do fim. Dramática? É verdade que adoro criar histórias para mim mesma, no fim das contas, essa é só mais uma.
Saí do vagão, ainda com a cabeça vagando e quando tirei os fones, ouvi sua voz me chamando. Confesso que tudo foi muito rápido, mas pareceu meia hora. Ainda de costas para a porta, não entendi muito bem se era comigo. Meu cérebro ainda não funcionava perfeitamente, mesmo assim me virei num reflexo só meu. Por fim, entendi. Você tinha dito "espera", eu só escutei ao tirar os fones. Ao olhar para trás, as portas do metrô fecharam e você se foi. Se foi fisicamente, mas continuo te reinventando ao som de Pode ser, da banda do mar. Quem sabe a gente se esbarre por aí, um dia desses...

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